sexta-feira, 20 de julho de 2012

Do clássico ao real; Duda Braz


Na clássica historia de Miguel de Cervantes, Dulcinéia Del Toboso, representava a musa idealizada por Dom Quixote. Era ela que lhe inspirava a lutar contra moinhos de ventos, ser um soldado honrado e seguir em busca de seu amor dia após dia. Para Alonso Quixano, que futuramente assumiria seu alter ego, Dom Quixote, tal mulher, com tais valores só poderia ser encontrada em sua mente. Dulcinéia Barbosa Braz Cavalcante, nascida no dia 27 de janeiro de 1978, bailarina da SPCD, formada em balé pela Escola Municipal de Bailados e graduada em Artes pela Faculdade Mozarteum de São Paulo, esposa e daqui a mais ou menos um mês, mãe, prova que a figura feminina da mulher capaz de se moldar a cada situação para dar seu melhor, pode ser realidade. A bailarina, que fez aula até os sete meses de gravidez, “Tudo com acompanhamento médico. Fiz aulas na barra até os sete meses, que foi até onde senti que conseguia, mas desde o início da gravidez parei de fazer saltos”, explica, começou a fazer aulas de balé aos cinco anos e aos oito, entrou para a Escola Municipal de Bailados, graças a uma de suas professora, Joselita Lopes. Em paralelo com as aulas na EMB, também cursava dança em instituições particulares como as escolas de Kátia Rocha, Ismael Guiser e Toshie Kobayashi.
Duda nunca conheceu outra profissão. Desde os treze anos já viajava para participar de concursos e festivais, nacionais e internacionais, em países como Japão, Hungria, Peru, Paraguai e Itália. Premiada como bailarina revelação na 1ª Edição do Passo da Arte, foi convidada para participar de alguns projetos em Recife, e assim começava uma longa parceria entre a bailarina e a cidade. Após dois anos indo e voltando para a cidade, Duda recebeu um convite para permanecer 6 meses como parceira de Marcelo Pereira, onde daria aulas, criaria coreografias e participaria de espetáculos. “Essa fase foi incrível, porque eu não me mudei somente para o Recife, e sim para o Nordeste inteiro”, diz. Após cinco anos na cidade, a moça retornou a São Paulo, onde dançou no grupo Raça e trabalhou com Roseli Rodrigues, onde permaneceu três anos. “Trabalhar com a Roseli foi um momento muito especial. Ela tinha um cuidado com seu trabalho, tanto no espetáculo como fora dele. Eu a admiro. Ela e o Marcelo (Pereira) são minhas inspirações”, alega a bailarina, que coloca também Alessio Silvestrin em sua lista de admiradores. “O Alessio me fez questionar e perceber até onde pode chegar à sensibilidade de um artista”, finaliza.
Depois do período com Roseli, Duda mais uma vez mudou-se, desta vez para o Mato Grosso do Sul. Lá trabalhou no instituto Moinho Cultural Sul-Americano, sob direção de Márcia Rolon onde deu aulas de balé para crianças carentes que além da dança também aprendiam informática, música, pintura e línguas. Após um ano, a bailarina voltou para Recife. Foi nessa época que, ao ver um anúncio na internet, descobriu que a São Paulo Companhia de Dança estava com audições abertas. “Não tinha como não fazer. Além da Companhia vir até Recife para fazer a seleção, a audição seria na escola onde eu dava aulas. Foi o destino”.
Na audição para a SPCD, Duda conheceu Thamiris Prata, que estava na cidade a passeio. Ambas passaram para a 2ª fase e permanecem no elenco da SPCD até hoje.
Apesar de ainda hoje a bailarina considerar Recife um segundo lar, Duda acredita que a SPCD é o seu lugar. “Sempre gostei de ir ao além. Me incomoda não dar o máximo de mim. Aqui na companhia eu me sinto à vontade, porque eu tenho essa oportunidade, ir ao extremo”. Além desta vantagem, a bailarina aprecia o aprendizado que a São Paulo Companhia de Dança proporciona para os bailarinos, a oportunidade de mesclar em seu repertório coreografias clássicas e contemporâneas e a chance de dançar obras assinadas por diferentes tipos de coreógrafos. Ao citar Serenade, de George Balanchine, como sua coreografia preferida, Duda também deixa escapar sua preferência pelas montagens clássicas “O clássico é a minha formação. É o que eu gosto de ver, o que gosto de dançar, e Serenade, apesar de ser uma coreografia muito cansativa, é maravilhosa. Tem uma energia, uma sintonia entre nós meninas, que é incrível.”, e acrescenta que Bachiana nº1, de Rodrigo Pederneiras, também está entre suas prediletas. “É incrível como o Rodrigo conseguiu casar a música com os movimentos”.
Grávida de oito meses, Duda teve de se adequar mais uma vez, mas desta vez para o outro lado da cena, auxiliando os professores/ensaiadores da Companhia, surpreendendo-se com a quantidade de coisas que devem ser organizadas no cotidiano da SPCD para o bailarino chegar aos palcos.
Ao ser questionada sobre como imagina que será sua volta, a bailarina responde sem pensar duas vezes “Minha volta será radiante! Eu vou estar com uma menininha linda ao meu lado, louca para voltar a ficar em forma e à dançar, tudo vai estar aflorando, toda essa energia acumulada. Nesse tempo em que estou parada, aprendi a perceber a dança de uma outra forma, me deu um novo estimulo”, e acrescenta “Por causa da gravidez não pude participar, com a SPCD, da 10ª Mostra de Dança em Recife porém, fui convidada para fazer um texto e um vídeo para o homenageado da Mostra deste ano”. A homenagem em questão foi para Marcelo Pereira. “O Marcelo me ensinou muitas coisas, mas o principal foi que temos de sempre vencer o cansaço, não ter medo da dor e sempre ser humildes. Sem a humildade, as portas se fecham muito mais cedo do que a gente imagina” comenta a bailarina em uma frase digna de ser dita por aquela musa, que só existia na mente do pobre Alonso Quixano, que não teve sorte de conhecer as Dulcinéias do mundo real.


Por Murilo Rocha, de São Paulo

5 comentários:

  1. Duda Braz foi carinhosa comigo desde o primeiro dia em que a conheci. Ela é um exemplo para SPCD.

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    1. Thamiris, é um prazer ter você como companheira. Sempre juntas e vamos em frente! Grande beijo!!!

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  2. Duda, Braz!! que delícia esta pessoa!! Sempre solícita , prestativa, carinhosa , uma bailarina exemplar e em breve entrará em uma nova etapa de sua vida! Ser mãe! quer uma dança melhor que esta? Muitas bençãos Duda querida, que seu caminho seja sempre iluminado! beijos Adriana Villela

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  3. OI Adri! Obrigada pela sua atenção e carinho. Grande beijo!

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  4. Muito orgulho de conhecer essa pessoa maravilhosa , grande bailarina e uma amiga muito querida o Ballet no Recefe jamais foi o mesmo sem a mágia e o encanto de Duda Braz!!!!! te amo minha linda!!!!!

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