quinta-feira, 29 de agosto de 2013

No caminho certo



                                                                                                Binho Pacheco 
                                                                         

Ele sempre quis ser bailarino e foi com o apoio da família que aos 16 anos, Binho Pacheco pegou uma lista telefônica e começou a ligar para escolas de balé, na cidade de Salvador. Participou de testes e conseguiu ingressar na Escola de Balé do Teatro Castro Alves, dando início aos seus estudos em dança. Ele não sabe com exatidão como nasceu a vontade de coreografar. Fato é que, ainda novato, Binho, hoje bailarino da São Paulo Companhia de Dança, criou sua primeira coreografia e sua obra foi vencedora de uma competição interna da escola de balé do Teatro Castro Alves. Era apenas o início.

Deixou Salvador aos 18 anos e mudou-se para São Paulo para estudar na Especial Academia de Ballet. Além da rotina de bailarino, ministrava aulas de balé na escola e sempre que sobrava tempo, continuava trabalhando em suas criações. Sobre isso, sorri e diz: “Entre um ensaio e outro, sempre que vejo uma sala vazia eu pego um colega para experimentar um passo novo”. Apesar da rotina intensa, Binho não abre mão de ir a feiras artesanais, parques, concertos e museus nas horas de lazer.

Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 2010, desta vez para dançar na Companhia Brasileira de Ballet, tinha 19 anos e já era bailarino profissional. Foi lá que criou o que considera sua primeira grande coreografia; o balé "Sinais de Luz", com duração de 20 minutos, e afirma: "A responsabilidade de criar um balé de 20 minutos é muito maior". A obra fez grande sucesso e ele se orgulha em dizer que sua criação ainda faz parte do repertório da companhia.

Ao retornar para São Paulo, em 2011, começou a trabalhar em mais uma criação. Para Binho, experimentar é a palavra de ordem no início deste processo. "A gente idealiza uma coisa, mas cada bailarino responde de uma maneira diferente. Muitas vezes, o movimento fica muito melhor do que eu havia pensado". Ele também destaca a música como sendo imprescindível para o seu trabalho, pela projeção que dá ao bailarino. Processo finalizado e sua nova obra, Idílio, não demorou a render frutos. No ano seguinte, a peça foi apresentada pela Especial Academia de Ballet no 30º Festival de Dança de Joinville e o grupo venceu a competição na categoria Ballet Clássico Avançado. Felicidade para o jovem coreógrafo, admirador de grandes criadores da dança como Nacho Duato, Jirí Kylián e George Balanchine, ao reconhecer que o festival reúne grandes profissionais da dança.

Binho seguiu com a carreira de coreógrafo, mas era como bailarino que daria seu próximo grande passo. Desde a criação da São Paulo Companhia de Dança, em 2008, admirava o repertório da Companhia e sempre quis fazer parte do corpo de bailarinos. “Sabia que se conseguisse entrar na São Paulo Companhia de Dança eu poderia dançar peças clássicas e contemporâneas. A companhia tem um repertório muito variado e cada obra te desafia de uma maneira diferente, o que é enriquecedor para qualquer bailarino”. 

Em 2013, após participar de três audições, conseguiu uma vaga no corpo de bailarinos da São Paulo Companhia de Dança. Para ele, fazer parte da Companhia foi a realização de um sonho e seguiu conciliando a rotina de aulas, ensaios e apresentações, com seu trabalho de coreógrafo, e deu início à criação de mais uma peça. Desta vez, inspirado pela estação do outono, Binho cria a obra Concerto de Outono. "Para mim, o início do outono é o momento que o verão nos dá para renovar as energias". Ele também assina o figurino da coreografia, apresentada em junho pela Especial Academia de Ballet na quinta edição do Festival Passo de Arte de São Paulo, vencedora na categoria Conjuntos de Clássicos Avançados. Após a premiação, Binho foi convidado para remontar a obra em Lisboa, para a Escola de Dança do Conservatório Nacional.

Segundo ele, sua coreografia lhe rendeu um reconhecimento maior do que poderia imaginar. No final de julho, aos 24 anos, Binho recebeu o prêmio de Coreógrafo Revelação da 31a edição do Festival de Dança de Joinville, com a mesma obra. Além do prêmio, ganhou um vale viagem para participar de um evento de dança internacional. Pergunto a ele o que pensou ao subir no palco para receber seu prêmio, e responde: “Não consegui pensar em nada. Só senti que estava no caminho certo".


Por Paula Quaresma, de São Paulo




                                                                     Cena de Concerto de Outono, de Binho Pacheco


                                        Bailarinos Paula Alves e Alef Albert, em cena de Concerto de Outono


                                         Bailarinos Paula Alves e Alef Albert, em cena de Concerto de Outono



terça-feira, 6 de agosto de 2013

Figuras 2013

Para dar sequência ao projeto de resgate da memória da dança no Brasil, a SPCD segue em produção de mais quatro episódios da série Figuras da Dança, iniciado em 2008. No total, foi registrada a trajetória de vida e carreira de 21 personalidades somadas a mais quatro que compõem agora o ‘Figuras’ 2013. A lista deste ano inclui a ‘quadra de ases’ formada por Hugo Travers, Eva Schul, J.C. Violla e Cecília Kerche, artistas emblemáticos da dança brasileira. O box do Figuras da Dança 2013 inclui quatro DVD´s e será lançado no final do ano. A direção é de Inês Bogéa.

O trabalhoso e intrigante processo de pesquisa durante a produção dos documentários revela histórias curiosas, engraçadas e emocionantes, presentes na memória dos artistas, que encontram no projeto a oportunidade de trazê-las à tona. Argentino radicado no Brasil, Hugo Travers enfrentou ‘mundos e fundos’, como diz o ditado, para seguir carreira como bailarino. “Com 15 anos escutei pelo rádio que o Teatro Colón (Argentina) abria inscrições para bailarinos. Viajei para Buenos Aires e me inscrevi. Contei para minha mãe e quando chegou o dia, me trancaram em casa. Perdi a audição”, conta Travers sobre o início de carreira. Durante a temporada do Ballet Nacional de Cuba em Buenos Aires, foi convidado por Alicia Alonso a substituir um bailarino num espetáculo. Neste convite, viu a oportunidade de correr o mundo exercendo sua paixão até chegar ao Brasil, onde fincou raízes e fez carreira no Grupo Corpo e no Balé da Cidade de São Paulo.

Além dele, outro destaque do Figuras deste ano é o paulista J.C Violla. Nascido em Lins, no interior de São Paulo, carrega em sua bagagem artística as funções de bailarino, ator, cantor, coreógrafo e professor de dança, além de importantes prêmios entregues pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como melhor bailarino e coreógrafo revelação. “Eu me sinto um cara do presente e do futuro. Estou em constante pesquisa e ainda quero fazer muitas coisas”, fala Violla que, ao longo da carreira, protagonizou e produziu inúmeros espetáculos, com destaque para Valsa para Vinte Veias, de sua autoria; Falso Brilhante, no qual fez a preparação corporal da cantora Elis Regina; e Petruschka, adaptado por Naum Alves de Souza com coreografia de Célia Gouvêa, seus grandes parceiros de carreira.

Outro estrangeiro que adotou o Brasil como pátria amada é a italiana Eva Schul, que desembarcou em Porto Alegre com oito anos iniciando os estudos em balé com a professora Maria Julia da Rocha (1956-1964). A partir disto, dedicou sua vida à arte destacando-se como uma das precursoras da dança moderna no Brasil. Após estudos no Uruguai e Argentina, criou um laboratório de dança em Porto Alegre dentro de uma escola de balé, onde desenvolveu um centrado trabalho de pesquisa. A este espaço deu o nome de Mudança. “O Espaço Mudança gerou um movimento cultural onde se desenvolviam todas as linguagens artísticas; onde coexistiram artistas que desabrocharam e se tornaram conhecidos a partir de experiências dessa época”, conta Eva que segue seu trabalho como professora, coreógrafa e diretora da Ânima Companhia de Dança e do Grupo Experimental de Dança da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Conterrânea de Violla, a linense Cecília Kerche iniciou a carreira em São Paulo, mas foi no Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro sua ascensão como bailarina. Em seu tour pelo globo, dançou como solista os balés Mirtha e Giselle, remontado por Peter Wright; participou do especial Ballerina em Nova York, produzido pelo canal BBC; dançou O Lago dos Cisnes com o Ballet Nacional de Cuba, convidada por Alicia Alonso; dança nos teatros de Odessa, Tashkent e Novosibirsky em turnê pela Rússia; dançou como convidada na temporada de comemoração dos 40 anos do Balé Nacional do Chile; além de outras participações em espetáculos. Em 2010, publicou o livro Cecília Kerche Palco e Vida, uma espécie de fotobiografia com imagens marcantes de seus 30 anos de carreira. Atua como primeira bailarina até hoje e, este ano, foi nomeada curadora artística do Festival de Dança de Joinville. 

Diante destes artistas está a equipe de produção da SPCD que, além do aprendizado, também se divertiu com os novos ‘figuras’. Abaixo, imagens do making of. 

Por Bruno Alves, de São Paulo
Creditos: Fernando Cunha / Diego Bandeira / Comunicação SPCD