segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dia 3 | Estreia em Herzylia

É dia de movimento. E não importa quantas vezes o bailarino dance a mesma obra, sempre dá um frio na barriga. Hoje, dia de estreia da SPCD aqui em Herzylia, não é diferente. 

Viemos para cá por volta das 13h (eram 7h no Brasil). Os bailarinos fizeram uma aula de balé clássico com Maria Zacks, professora convidada para acompanhar esta temporada e depois  marcaram palco (marcar palco significa colocar a coreografia na cena, com os espaços corretos, saber a coxia que se entra e sai, ver onde está a luz, etc) e depois tiveram um ensaio corrido (um ensaio do espetáculo na sua ordem com figurino e a hora de dar algo errado é neste ensaio, porque ainda temos tempo de arrumar), correções, pausa, maquiagem, figurino, cabelo... palco! 


O programa que Inês Bogéa, diretora artística da SPCD, escolheu para cá, você aí no Brasil já teve chance de assistir, Bachiana n.1, de Rodrigo Pederneiras, criada especialmente para a Companhia; Gnawa, de Nacho Duato e In the Middle, Somewhat Elevated, de Willian Forsythe. Um programa que segundo Inês, reúne obras de três grandes nomes da dança: "Rodrigo Pederneiras, um mestre das continuidades, William Forsythe, coreógrafo da ruptura, do equilíbrio no desequilíbrio, e Nacho Duato, artista das geometrias das linhas e do uso dinâmico do espaço e das formas. E busca mostrar a variedade do repertório da SPCD e a dinâmica dos bailarinos brasileiros". 

E ela explica: "Em Bachiana nº1, Pederneiras se inspirou na Bachianas Brasileiras nº1, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Composta em 1930, brasileiramente à maneira de Bach (1685-1750), essa peça tem cores, ritmos e motivos que apresentam ecos das vaquejadas dos campos e sertões. A polifonia criada por Villa-Lobos com os oito violoncelos está espelhada na dança. Pederneiras se valeu dos movimentos da dança clássica – aqui muito presentes - e incorporou novos ângulos, molejos e requebros; dinâmicas e velocidades, principalmente no movimento dos pés. Para ele a coreografia evidencia o romance, a paixão e a entrega nas relações humanas. São três movimentos: a introdução (“Animato“) é inspirada na “embolada”, um gênero musical do Nordeste, na dança os movimentos passam de um corpo ao outro como ondas, devido à ressonância de um gesto no outro. O segundo movimento (“Prelúdio, Andante“), deriva de uma modinha, composição musical de origem brasileira, com influências italianas. Um duo marca a cena. O terceiro movimento (“Fuga, Un Poco Animato“) traz uma conversa entre quatro instrumentos, com perguntas e respostas, que são ecoadas na movimentação dos bailarinos". 

Em Gnawa (2005) os quatro elementos fundamentais estão na cena: a água, a terra o ar e o fogo marcando a conexão do homem com o universo. Nos passos dessa dança vê-se o vocabulário clássico acrescido da técnica de Martha Graham, com movimentos de tronco – contrações e expansões –, pontuações e pesos. O movimento das mãos antecipa o sentido da forma dos braços, riscando de maneira clara o espaço, e determinando sua força e intenção antes de se ligar ao outro. A força do movimento vem do centro do corpo, da bacia, e reverbera pelo tronco, pelos braços, pernas e cabeça. A emoção ganha substância pela percepção do próprio corpo, com seus espaços internos e o espaço ao redor. Segundo Duato, a riqueza da cultura mediterrânea, livre dos clichês, constitui uma grande fonte de inspiração: “Nossa cultura tem raízes gregas, romanas, mouras, egípicias, e eu amo isso”.

 Em In The Middle, Somewhat Elevated (1987), Forsythe se vale da linguagem da dança clássica para “escrever histórias de hoje” e se baseia na percepção da velocidade – rapidez e lentidão.  Esta obra marca a história da dança por transformar a linguagem da dança clássica propondo uma continuação da pesquisa iniciada por Balanchine, expandindo as possibilidades do movimento no espaço. Nessa coreografia, Forsythe utiliza a forma tradicional de composição de um tema com variações. Esse tema se desenvolve, se modifica e se transforma no corpo de cada um, em variações rápidas e arrojadas que combinam movimentos de solos, duos e conjunto. Para o cenário, o coreógrafo havia pensado em vários objetos cotidianos, pendurados por fios invisíveis. Depois dessa ideia inicial, optou pela síntese, traduzida por duas cerejas, que são colocadas no meio, um pouco elevadas. 

A gente não poderia começar os posts por aqui sem um explicação sobre as obras. Agora é tempo de ir para a plateia. O espetáculo vai começar. TOI TOI TOI! 

Marcela Benvegnu, de Herzylia, Israel
          

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