A São Paulo Companhia de Dança esteve, no último sábado, em
São João da Boa Vista, cidade que fica a 218 km da capital, como uma das
atrações da Virada Cultural Paulista, realizada pelo Governo do Estado. O
espetáculo contou com o recurso de audiodescrição e libras como vem acontecendo
nas apresentações - por meio do Programa Estadual de Acessibilidade em
Cultura - uma parceria entre as Secretarias de Estado da Cultura e dos
Direitos da Pessoa com Deficiência.
O casal Valdir Pereira e Maria Juliana Dominato vivenciou a
experiência de “assistir” a um espetáculo utilizando o recurso e não podíamos
deixar de contar aqui seus depoimentos. Eles têm baixa visão devido a retinose
pigmentar, doença que causa a degeneração da retina, região do fundo do olho
humano e faz com que a pessoa apresente um declínio gradual em sua visão. Logo que entraram na sala de espetáculos, eles procuraram sentar o mais próximo possível do
palco na tentativa de capturar alguns movimentos. “Conseguimos enxergar muito
pouco, praticamente nada. Se não fosse a audiodescrição, que é uma novidade
para nós e estamos usando pela primeira vez,
ficaríamos com 80% de falha ao enxergar o espetáculo”, conta Valdir.
Radiante por ter estado
um espetáculo depois de tanto tempo sem ir a
apresentações, Maria Juliana sentiu realmente que pode participar de uma
apresentação como público. “A audiodescrição nos auxilia para sabermos quais
são os movimentos. Eu vi um vulto no palco, que de repente sumiu. Daí escutamos
pela audiodescrição que o bailarino estava no chão, então é onde temos a
localização de espaço: direita, esquerda,
frente e atrás. Quando tinham quatro casais no palco eu só havia visto um, daí
que fui localizando aos poucos, que a esquerda tinha um casal fazendo um tipo
de movimento e outro estava ao fundo. Apesar de não ver, da para se ter uma
noção, sentir Você não fica só
ouvindo...você participa. Hoje eu pude entender o que são várias coisas por
conta da explicação”.
Desde 2013, as apresentações da
São Paulo Companhia de Dança no interior e na capital do Estado de São Paulo
contam com recurso de audiodescrição com o objetivo de viabilizar a
implantação de recursos de acessibilidade comunicacional em produtos culturais.
Neste ano, a companhia ampliou os recursos de acessibilidade por meio do
aplicativo Whatscine, que transmite para smartphones e tablets além da
audiodescrição, os recursos de interpretação em LIBRAS e legendagem. A São
Paulo Companhia de Dança é a única companhia de dança totalmente acessível na
América Latina.
Como é feita a
audiodescrição?
A construção de um roteiro de dança para audiodescrição se
dá a partir de um minucioso trabalho de estudo da obra a fim de detalhar
aspectos como cenário, figurino, iluminação, movimentação e características
físicas dos bailarinos, narrados simultaneamente à apresentação por meio de
mediação linguística por fones de ouvidos, e com a maior riqueza de detalhes
possível. Os recursos de interpretação em LIBRAS, legendagem e
audiodescrição são previamente gravados a partir da construção deste roteiro e
acessados por meio do aplicativo Whatscine, promovendo a inclusão de
pessoas com deficiência.
Por Cláudia Trento, de São Paulo
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