terça-feira, 27 de maio de 2014

Audiodescrição em São João da Boa Vista

A São Paulo Companhia de Dança esteve, no último sábado, em São João da Boa Vista, cidade que fica a 218 km da capital, como uma das atrações da Virada Cultural Paulista, realizada pelo Governo do Estado. O espetáculo contou com o recurso de audiodescrição e libras como vem acontecendo nas apresentações - por meio do Programa Estadual de Acessibilidade em Cultura  - uma parceria entre as Secretarias de Estado da Cultura e dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

O casal Valdir Pereira e Maria Juliana Dominato vivenciou a experiência de “assistir” a um espetáculo utilizando o recurso e não podíamos deixar de contar aqui seus depoimentos. Eles têm baixa visão devido a retinose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina, região do fundo do olho humano e faz com que a pessoa apresente um declínio gradual em sua visão. Logo que entraram na sala de espetáculos, eles procuraram sentar o mais próximo possível do palco na tentativa de capturar alguns movimentos. “Conseguimos enxergar muito pouco, praticamente nada. Se não fosse a audiodescrição, que é uma novidade para nós e estamos usando pela primeira vez, ficaríamos com 80% de falha ao enxergar o espetáculo”, conta Valdir.

Radiante por ter estado um espetáculo depois de tanto tempo sem ir a apresentações, Maria Juliana sentiu realmente que pode participar de uma apresentação como público. “A audiodescrição nos auxilia para sabermos quais são os movimentos. Eu vi um vulto no palco, que de repente sumiu. Daí escutamos pela audiodescrição que o bailarino estava no chão, então é onde temos a localização de espaço: direita, esquerda, frente e atrás. Quando tinham quatro casais no palco eu só havia visto um, daí que fui localizando aos poucos, que a esquerda tinha um casal fazendo um tipo de movimento e outro estava ao fundo. Apesar de não ver, da para se ter uma noção, sentir Você não fica só ouvindo...você participa. Hoje eu pude entender o que são várias coisas por conta da explicação”.

Desde 2013, as apresentações da São Paulo Companhia de Dança no interior e na capital do Estado de São Paulo contam com recurso de audiodescrição com o objetivo de viabilizar a  implantação de recursos de acessibilidade comunicacional em produtos culturais. Neste ano, a companhia ampliou os recursos de acessibilidade por meio do aplicativo Whatscine, que transmite para smartphones e tablets além da audiodescrição, os recursos de interpretação em LIBRAS e legendagem. A São Paulo Companhia de Dança é a única companhia de dança totalmente acessível na América Latina. 
Como é feita a audiodescrição?
A construção de um roteiro de dança para audiodescrição se dá a partir de um minucioso trabalho de estudo da obra a fim de detalhar aspectos como cenário, figurino, iluminação, movimentação e características físicas dos bailarinos, narrados simultaneamente à apresentação por meio de mediação linguística por fones de ouvidos, e com a maior riqueza de detalhes possível. Os recursos de interpretação em LIBRAS, legendagem  e audiodescrição são previamente gravados a partir da construção deste roteiro e acessados por meio do aplicativo Whatscine, promovendo a inclusão de pessoas com deficiência.   

Por Cláudia Trento, de São Paulo

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